Autor: Maria Aparecida Fagundes

DIALÉTICA DA INCERTEZA Este trabalho versa sobre as incertezas que rondam a civilização. Inversão de valores, conflitos sociais, guerras motivadas pelo poder, sobrevivência e pela ambição, mudança de paradigma em vários setores, principalmente nas inter-relações. Algumas inquietações são apresentadas com intento de chamar atenção de outros saberes, para um olhar cirúrgico nas questões do ser humano, uma vez que, o homem é o genitor e ao mesmo tempo vítima das mazelas do seu meio. Um dos sintomas que a sociedade está doente é o alto nível de patologias psíquicas. O jogo de forças opostas não permite intervenção efetiva e o saneamento dos conflitos. Foi escrito com base no pensamento de Sigmund Freud, que já pensava a civilização a mais de um século. Erich Fromm que também reflete o comportamento do homem com profundidade. Sergio Paulo Rouanet pesquisador da psicanálise, que instiga a mesma imputando grande responsabilidade na difícil tarefa de prover mudança na malha social que está porosa, frágil carecendo de mudanças. Palavras-chave: Psiquismo, conflito, sociedade, psicanálise,

 

 

A elite global quer eliminar 80% da humanidade. Mensagem cravada na pedra de granito, Georgia Guide Stones, EUA. Essa mensagem nos remete a pensar que o globo terrestre está no “limite” demográfico. Consequentemente se avizinham os problemas oriundos da concorrência  entre povos. O ser humano é, por natureza, competidor não apenas para conquistar o seu quinhão, mas para dominar e subjulgar o seu igual. A frase que inicia este texto exemplifica essa dinâmica. Competir, discordar, eliminar para chegar à “gloria”. Que glória? se o desejo é deslizante e montado a partir de várias matrizes.

Desde a revolução industrial o mundo passou por mudanças significativas. A forma de produção e a gestão de pessoas  assumiram caráter perverso.  Os povos atrasados por sua pobreza e invisibilidade histórica, sem voz ativa, tiveram que se submeter aos ditames dos  detentores do poder. O que gerou um conluio silencioso montado a partir de forças e fraquezas. As pessoas livres não necessitam de libertação e “as oprimidas não são suficientemente fortes para libertarem-se”.

O relacionamento entre os contratados e contratantes deixou de ser cordial para ser burocrático, desumanizando as relações. Segundo Erich Fromm “o que vemos hoje é uma grande máquina de produzir”, o elemento humano foi reduzido a um crachá. Os homens são olhados como produtores e consumidores. Pouco interessa aos capitalistas os sintomas destrutivos que acometem a sociedade em âmbito global. Como desdobramento desse processo podemos observar patologias graves como, por exemplo, o imperialismo, o belicismo americano, o crescimento do fundamentalismo, a intolerância e o nazismo.

Nos países subdesenvolvidos vemos com lentes de aumento os resquícios sórdidos do colonialismo, a exploração e manipulação de pessoas, inclusive crianças, que são tratadas meramente como números em detrimentos do enriquecimento dos “donos do mundo”. O Estado, com seu poderio gigantesco, deveria volver o olhar para os ‘sem vez’, flerta o tempo todo com o capital e faz o jogo dos empresários. Cresce a revolta e a descrença de pessoas que desconhecem métodos de organização que poderia promover a edificação da sociedade. Dessa forma a grande massa desassistida sai em busca do seu quinhão usando descaminhos, a força e a violência. Assim notamos que a liberdade de ambos os lados está ameaçada.

No último século a tecnologia passou por um avanço inimaginável, concebendo equipamentos abarcados de recursos para auxiliar o homem nas tarefas cotidiana, encurtar distâncias e conectar-se com o mundo. Em contrapartida o desenvolvimento humano ainda não se mostrou efetivo. Cotidianamente a mídia nos mostra atos humanos que nos chocam e envergonham. Por exemplo, Militares que são condecorados e recebem aumento de soldo por matarem centenas de seres humanos. Esse é um exemplo de grande visibilidade em época de guerra. Entretanto, no dia a dia a crueldade e a frieza assombra a todos, cito o tráfico de pessoas que só perde para o tráfico de drogas. A violência contra mulheres, a corrupção de percorre o mundo.

A mediocridade está estabelecida em todos os setores, como véu impede a visão aguda, a reflexão, o autoconhecimento. A mídia, que está serviço do capital, exerce a violência simbólica, bombardeia a mente das pessoas, deixando-as vazias de si e preenchendo-as com falsas promessas de felicidade, cuja finalidade meio e fim é o consumo, num processo que se retroalimenta . As pessoas são conduzidas como rebanho neste jogo onde só há um ganhador. Esse sistema perverso aprisiona com a falsa ideia de liberdade. Cria necessidades e desconstrói a autoimagem para que o individuo caia na esteira do consumo.

Igualmente observamos as regras do capitalismo aplicadas nas relações humanas. Onde as pessoas se relacionam de forma utilitarista, os vínculos afetivos estão cada vez mais voláteis, as pessoas entram em obsolescência em curto espaço de tempo. Observamos essa dinâmica no mercado de trabalho e nas inter relações. Como consequência há um esvaziamento de energia vital. A vida já não é tão preciosa, não há mais o planejamento para o futuro porque o futuro é agora. Uma das consequências é o alto índice de suicídio.

Diante dessas questões surge a inquietante pergunta a quem compete cuidar do futuro civilização? Numa resposta precipitada diríamos que compete aos governos eleitos para essa finalidade. Será que é de responsabilidade apenas dos governos? Ou será que as diversas áreas do conhecimento tem a obrigação de dialogar e buscar encaminhamento para os grandes problemas da humanidade?

Sigmund Freud evidenciou essa preocupação no livro O Mal Estar na Civilização e Futuro de uma Ilusão, “se esforçou para entender as macro estruturas e os fatores condicionantes da sociedade” como é dito na entrevista de Rouanet.  A mais de um século já havia por parte do criador da Psicanálise, um olhar voltado ao bem estar da civilização. Principalmente porque ele viveu numa época de grande perseguição e sofrimento promovidos pela Segunda Guerra. Entretanto, ele pondera a dificuldade de conciliar a manifestação instintual do homem na sociedade, pontilhada por regras e costumes.

Por muitos anos a psicanálise convergiu para o individuo, como se este fosse um mundo à parte. Faz-se mister lembrar que individuo é parte de um todo e só existe se for inserido na cultura.  Portanto, tratar um indivíduo por anos e devolvê-lo a uma sociedade doente poderá ser infrutífero. Essa reflexão levou a psicanálise intercambiar com outros saberes como, antropologia, sociologia e linguística, uma vez que, é preciso olhar o homem na sua totalidade com as inúmeras variáveis que modelam o caráter. Não é possível compreender o individuo sem pesquisar a sua história. Assim como não possível projetar o futuro sem analisar o contexto atual os novos paradigmas que estão sendo incorporados pela civilização. As crenças e as fantasias, citadas Nos Três Escrínios (Freud, 2008), como recursos auxiliar no equilíbrio do Eu estão se enfraquecendo.

Em seu livro “A descoberta do inconsciente social”, (Erich Fromm 1992), analisa as principais descobertas de Freud, que contribuem significativamente para entendermos o que se passa no mundo. “O comportamento do homem é amplamente determinado pelos impulsos, essencialmente irracionais, que entram em conflito com sua razão, padrões morais e padrões sociais”.

“Enquanto atua, o homem sente e pensa de acordo com forças inconscientes. Os impulsos instintuais para controlar e dominar estão no núcleo do seu processo inconsciente e obedecem a regência do instinto de sobrevivência, presente em todos os seres vivos”. Partindo dessa afirmação, é possível entender que a elite global, ao perceber a aproximação do “limite demográfico” e a consequente ameaça às condições de sobrevivência, considere a possibilidade de eliminar a maior parte da população, justamente a mais fraca e a menos competitiva.

Destacamos que a base da sobrevivência é inconsciente, mas o desejo de eliminação dos mais fracos é plenamente consciente.            Outro aspecto a ser considerado é o conflito entre as ideias conscientes do homem sobre o mundo e sobre si mesmo. As forças de motivação inconsciente rompem o pretenso equilíbrio entre o Eu e a sociedade, e produz patologias psíquicas como neuroses e impulsos de destrutividade, que impedem a percepção consciente de que, ao destruir seu semelhante, o homem, simultaneamente, destrói a sí mesmo.

Se atentarmos para o fato de que uma parcela significativa dos avanços tecnológico foi destinada à destruição, percebemos o paradoxo da orientação humana que, ao mesmo tempo em que descobre e produz recursos para viabilizar e melhorar a vida, também aumenta o risco de se autodestruir.

Partindo de uma visão realista o comportamento humano tende a continuar na mediocridade porque não é simples fazer a travessia para o autoconhecimento. Ao analisarmos a história das civilizações, constatamos que elas se desenvolveram até certo ponto e depois declinaram e desapareceram. Não seria a humanidade uma única e grande civilização que também chegaria ao fim?

Sabe-se que a vida em si não tem sentido algum, e que nada existe no externo capaz proteger ou determinar a existência. Portanto, compete ao homem encontrar as soluções para seus problemas existenciais. Haverá futuro para a ilusão? Qualquer que seja a resposta estará correta, pois o homem é o único arquiteto do seu universo social. Quais as oportunidades, investimentos, estratégias são destinadas à população para que todos se beneficiem da malha social sustentável? Como foi citado o psiquismo saudável depende de inúmeras variáveis e a maior certeza é a predição de um futuro incerto.

 

 

REFERÊNCIAS

Documentário Georgia guide Stones <http://www.youtube.com/watch?v=fbUWCnsidD0> acesso em:, 08 out.2012

Filho, Juvenal, Manual para elaboração de trabalhos acadêmicos

Freud, Sigmund, O caso schereber, artigos sobre a técnica de outros trabalhos. Edição Standart Brasileira das obras psicológica Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago,1988.

FROMM,Erich, A descoberta do inconsciente social. São Paulo: Manole,1992.

MARCUSE, Herbert, Prefacio politico1966. In: Eros e Civilização. Rio de Janeiro: Zahar,1966.

Oliveira, Marcos. Aulas ministradas no curso de Psicanálise Holística. São Paulo: 2012.

ROUANET, Paulo Sergio, Dupla utopia psicanalítica.  Revista Percurso, São Paulo:  nº. 33.

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