Por Maria Valdeilda
Orientadora Educacional e Psicanalista

Para que a vida continue e recupere a direção correta, é necessário e indispensável que a mulher encontre seu lugar na história, tornando-se consciente de um tempo histórico que se perdeu irremediavelmente para sempre, ficando oculto, por causa deste apagamento, todo prejuízo evolutivo sofrido.

Acredito que a compreensão do tema da liberdade é fundamental conceitualmente à mulher, tal entendimento pode proporcionar um compromisso maior com a realidade, afinal, conhecimento é poder.

Entre os maiores pensadores da época, imperava a ideia de que a mulher, ser inferior, precisava ser integrada à sociedade e submetida a uma ordem masculina pré-estabelecida. Mesmo antes de Pitágoras (571 a.C), o grande filósofo e matemático, já definia a origem dos gêneros dessa maneira: “Há um princípio bom que criou a ordem, a luz, o homem, e um princípio mau que criou o caos, as trevas, a mulher”.
Neste caso quando se tratava da força e do poder, as mulheres eram ignoradas. E por muitos séculos a “liberdade”, não era privilégio nosso. E por muitos séculos a mulher recebeu como herança do homem a ideia central de existir somente para “amar”.

O medo de buscar a liberdade “plena” forma o verdadeiro cárcere de pensamento onde as mulheres vivem a solidão a dois.

Erich Fromm em seu livro o Medo a Liberdade nos posiciona a pensar que há um círculo inescapável, que leva da liberdade a uma nova dependência? Será que a emancipação de todos os vínculos primários deixa o indivíduo tão isolado e sozinho que inevitavelmente tem de fugir para o novo cativeiro? Será que independência e liberdade são a mesma coisa que isolamento e medo? Ou haverá um estado de liberdade positiva em que o indivíduo exista como um ego independente e, no entanto não esteja isolado, e sim unido ao mundo, aos outros homens e a Natureza.
Segundo as palavras de Erich Fromm, devemos acreditar que há uma solução positiva, que a marcha da “liberdade” crescente não constitui um círculo vicioso e que tanto o homem como a mulher podem ser “livres”, e sem embargo não ser solitário, crítico e nem por isso cheio de dúvida. Esta liberdade pode ser alcançada pela realização do seu ego? Filósofos idealistas acreditam que a realização individual só pode ser conseguida através da “percepção intelectual”.

Ao estudarmos sobre a mulher e a liberdade, acreditamos que uma revolução intelectual, manifestada a partir dos valores presente em toda a nossa sociedade faz a diferença na vida de cada mulher . Nossa “vontade de liberdade” depende da vontade do outro e mesmo assim a vontade de “liberdade do outro” pode depender também da “minha vontade”.

Os relacionamentos humanos estão limitados pelas Leis existenciais do “devir” tudo que está no universo se transforma e a liberdade se conquista. A mulher e a liberdade na nossa contemporaneidade transcenderam seus valores sociais e para além desta transcendência a mulher tem hoje, a força e o poder que o passado lhe tirou. Por mais que encontramos mulheres prisioneiras do seu próprio destino, cabe lembrar que pode ser por uma questão da vivência negativa que elas receberam na formação de sua cultura identitária de que liberdade é algo “perigoso” e que foi internalizado deste muito cedo na mente de nossas pequenas meninas. A geração se refaz entre 15 e 30 anos de acordo com a cultura do grupo. E a cada período entre uma geração e a anterior, podem ocorrer diversas possibilidades em que a mulher se choque contra tudo e contra todos em pró da conquista, de sua própria liberdade.

A aceitação dos diversos desafios é conflitante na rotina da mulher. Devemos revolucionariamente buscar nossos recursos internos, para depois, podermos criar uma mente revolucionária e lutar por nossa liberdade. Ainda encontramos mulheres que estão dentro da caixa da vulnerabilidade. Teremos que começar a investir no diálogo na construção de muitas ideias e não na agressão contra o outro. A verdadeira revolução da mulher em busca de sua liberdade se faz dentro do seu “Eu” primeiramente. Para finalizar nossa leitura deixo uma reflexão pertinente para as nossas leitoras: “ A minha liberdade e o meu valor hão de morrer junto com o meu Eu”. Será que a mulher contemporânea, está preparada para encarar a liberdade “plena” sem se comprometer com a dor?

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